Notícia

Sobra Política, Falta Economia.

Jorge Jatobá (artigo publicado no JC)
14 de Março de 2025

14 - Mar

Há sinais preocupantes de que há crescente desprezo e/ou desconhecimento no Governo Lula sobre as regras de funcionamento da economia ao nível macro e micro. As decisões são mais pautadas por questões políticas, especialmente em ano pré-eleitoral e com avaliação cadente do Presidente, do que por racionalidade econômica ou rigor técnico.

Do ponto de vista macro, a politica fiscal expansionista continua profundamente desalinhada da política monetária contracionista. O resultado é: 1) persistente inflação com eventual estagnação ou recessão à medida em que os juros altos inibem os investimentos das empresas e o consumo das famílias; 2) dólar elevado, retroalimentando a inflação; 3) Juros reais ( taxa Selic -taxa de inflação=10,6%) muito altos e curvas de juros futuros em ascensão como resultado de uma relação Dívida/PIB alta (77,8%), e em expansão.

Como visto, os desequilíbrios macroeconômicos são evidentes, repetindo-se os erros do passado. É como se as mesmas causas fossem, desta vez, gerar resultados diferentes. Não é assim. Insistir em crescentes gastos públicos em decorrência de promessas de campanha pode comprometer o desenvolvimento econômico, inviabilizando, pela viarecessiva, o cumprimento dessas mesmas promessas.

Do ponto de vista micro, as avaliações e iniciativas são disfuncionais. A persistente subida dos preços de alimentos que se associa a outros fatores para elevar a taxa de inflação como um todo, decorre, pelo lado da demanda, do crescimento da renda das famílias determinada, até recentemente, pelo dinamismo no mercado de trabalho (baixa taxa de desemprego, rendimentos reais do trabalho em alta) e pelas transferências de renda para pessoas e famílias (BPC , Bolsa-família, Saques do FGTS). Do ladoda oferta e dos custos, temos as secas, inundações e incêndios que comprometeram a produçãode alimentos, e a desvalorização cambial que é implacável no repasse aos preços dos alimentos importados ou que contenham insumos ou matérias-primas compradas no exterior( como o trigo usado na produção de pães, por exemplo).

Esse são mecanismos básicos de funcionamento em uma economia de mercado onde os preços são definidos, especialmente os dos produtos agrícolas, pelos determinantes da demanda e da oferta. Para mudar os resultados, as intervenções necessitam agir sobre os fatores que afetam a demanda ou oferta. Nunca congelar preços. Isso aconteceu no passado e os resultados desastrosos são bem conhecidos. Orações, bençãos, magia,promessas, decretos, fala de políticos, inclusive do Presidente, não adiantam.

O debate sobre inflação às vezes assume conotações ridículas. Lula tentou ensinar aos consumidores o efeito-substituição, comportamento racional de quem consome e se defronta com aumento de preços. A demanda por um bem depende do preço deste bem, da renda e dos preços dos bens substitutos. Todo consumidor sabe substituir um bem cujo preço subiu por outro cujo preço seja menor. Isso é da natureza do comportamento do consumidor. Não precisa do conselho do Presidente ou de quem quer que seja. Mais recentemente, o Governo resolveu zerar as tarifas de importação sobre vários produtos dos quais o Brasil não só é importante produtor, mas também exportador como carne, açúcar, milho e café. A oferta interna desses produtos é constituída pela soma da produção doméstica mais importação.

Zerar a tarifa reduz os preços dos importados, aumentando a competição interna com os produtos domésticos. Mas, dada a natureza da maioria desses produtos, a expectativa é que os efeitos sejam difusos e pouco significativos, se existir algum. A impressão é que o Governo considera que algo precisaria ser feito e divulgado para a população. Uma espécie de satisfação de que se está tendo uma iniciativa para enfrentar o problema do alto custo da alimentação, ou seja, de queo Governo não está alheio, ou passivo, em face do aumento dos preços dos alimentos. Com a melhoria dasafra que está chegando, os preços deverão cairem decorrência do aumento da produção doméstica. Politicamente, o Governo vai atribuir a queda dos preços a sua iniciativa de zerar as tarifas. A gratidão, todavia, será devida ao agronegócio. Politica e economia sempre andaram de mãos dadas, mas há situações em que a mão econômica se enfraquece enquantoa mão politica aumenta sua força e protagonismo. Quando isso acontece,a política conduz a economia.Esse desequilíbrio de forças não é bom para a sociedade.

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