Notícia

Legado incompleto que ficou no caminho

Fonte: Diario de Pernambuco
17 de Janeiro de 2024

17 - Jan

Pretensão de Lula é reforçar sua base eleitoral no País, começando pelo Nordeste. Por aqui, muitas obras foram iniciadas, mas estão inconclusas

Na intenção de fortalecer e ampliar sua base eleitoral, mirando no seu projeto de reeleição em 2026, o presidente Lula (PT) começa uma extensa agenda de visitas pelo Nordeste, que segue pelo Brasil nos próximos meses.

A Região é o principal reduto eleitoral do petista. Nos seus primeiros dois mandatos à frente do Palácio do Planalto - 2003 a 2011 - muitas obras estruturantes foram anunciadas, mas que ao longo do caminho foram perdendo força e suas conclusões se tornaram promessas sem data, como nos casos do Ramal do Agreste da Transposição do Rio São Francisco e a Ferrovia Transnordestina. Na bagagem que vai trazer ao estado nesta quinta (18), o presidente pretende refazer as promessas de investimentos, a começar pela retomada da segunda fase das obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Suape, paradas desde 2015.

Um projeto polêmico, anunciado em 2005 e então orçado em US$ 2,4 bilhões e que, em 2009, teve seu custo cinco vezes mais alto do que o valor inicial, chegando a US$ 13,4 bilhões. Em 2015, quando a Operação Lava-Jato começou, as obras foram paralisadas. Até então, a Rnest já custou US$ 18,9 bilhões à Petrobras.

Assim como a refinaria, Pernambuco tem outros projetos estruturadores que foram viabilizados nos dois primeiros mandatos de Lula, na promessa de mudar o perfil econômico da região, mas muitos foram interrompidos ou operam com uma capacidade mínima, como é o caso do Estaleiro Atlântico Sul (EAS), da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) e da Transnordestina, que deveria conectar o município de Eliseu Martins, no Piauí, ao Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará, passando de Salgueiro a Suape - trecho que foi retirado do projeto original. Agora, a ideia é de que, até 2026, a ferrovia receba cerca de R$ 450 milhões do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Sendo assim, a expectativa é de que o presidente Lula transforme este argumento em discurso político, atribuindo paralisação, ou o caminhar lento dos projetos, ao tempo em que passou fora do cargo. E é dado como certo de que esse discurso servirá para mostrar que, se os governadores e prefeitos estiverem do lado dele, como parceiros nessa empreitada, tudo fluirá com mais rapidez e eficiência.

- Análise

Para o professor, sociólogo e cientista político Isaac Luna, é sempre importante lembrar que o Brasil tem uma cultura política de descontinuidade de obras e serviços públicos quando a caneta muda de mão e que esse hiato nas obras será um prato cheio para reforçar o seu discurso.

"Sem dúvidas, ele vai justificar que, enquanto estava no governo, foi possível garantir investimentos para a realização de obras como a refinaria e a Transnordestina e que esses e outros empreendimentos pararam depois de sua saída."

Na avaliação de Luna, considerando que o ano é de eleições e que existe uma meta muito bem definida pelo PT de duplicar o número de prefeitos no País, ''não tenho dúvida de que essa agenda que ele vai fazer no Brasil atende a essa perspectiva de fortalecer as pré-candidaturas desse campo progressista no Nordeste e em todas as outras cidades que ele vai visitar. E para azeitar essa visita, ele anunciará a retomada de alguns investimentos importantes''.

Já a economista Tânia Bacelar avalia que o Nordeste viveu uma fase muito positiva no governo Lula e Pernambuco, particularmente,sob no comando do ex-governador Eduardo Campos. "Naquela época, com esses empreendimentos estruturadores, tivemos um bloco de investimentos de R$ 110 bilhões. Foi uma conjuntura positiva para quem governava. Depois, tivemos o contrário, uma conjuntura mundial que muda com a crise de 2008 e 2009. Mesmo assim, o governo Lula se saiu bem porque o País vinha bem, com muitos investimentos em curso".

Mas Bacelar acredita que o principal desafio do presidente e do Brasil é olhar para a economia do século 21. "Muita coisa que a gente trouxe para Pernambuco foi importante, mas dialoga com a economia do Século 20. A refinaria é um projeto do século 20. Estamos na transição energética para sair do petróleo e ir para as energias limpas, renováveis. Não basta repetir coisas exitosas do período anterior. O debate da transição ambiental é o que importa", disse a economista, lembrando ainda que sobre essa economia do futuro, a pauta gira muito em torno da Amazônia, "mas temos a caatinga pedindo para receber novos investimento".

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