Notícia

Estados Unidos e Brasil: reflexões sobre os atos antidemocráticos de Janeiro

Jorge Jatobá (Artigo publicado no JC)
10 de Janeiro de 2025

10 - Jan

Agressões à democracia e às suas instituições realizadas por uma multidão ensandecida e violenta estimulada por palavras e atos, nem sempre explícitos, de dois candidatos derrotados à Presidência dos seus países. A democracia saiu vencedora. As duas datas, aqui e lá, tornaram-se referências históricas para não serem Há quatro anos atrás, nos EUA, e há dois, no Brasil, o mundo assistiu estarrecido as esquecidas e para que não se repitam. É importante recordar que narrativas falsas fartamente disseminadas pelas redes sociais semearam o ódio e a violência. Nos dois casos, e não por coincidência, mas por puro mimetismo obscuro, questionou-se a probidade das urnas. A imprensa internacional nestes dias está dedicando um bom espaço para analisar as consequências dos dois eventos. Uma delas, nos dois países, está na esfera do judiciário.

Hoje o derrotado Trump de quatro anos atrás retorna ao poder pelo voto democrático e o rito da transição está sendo respeitado pela Presidência de Joe Biden em contraponto ao que ocorreu nos dias 6 e 20 de janeiro de 2021. Prejudicados por uma inflação que não causou e por sentimentos antiglobalizantes que influenciaram os votos de hispânicos, negros e de brancos de baixa renda, Biden e Harris perderam as eleições. Teremos agora uma legitima alternância de poder ditada pela força do voto. O que Trump tentou pela força, em 2021, e fracassou, conseguiu pelo voto em 2024, graças à democracia e às suas instituições. Trump, todavia, para confrontar seus adversários e a justiça americana, prometeu perdoar dentro das competências inerentes à Presidência dos EUA, todas as pessoas que foram condenadas por terem invadido e depredado o Congresso americano e por terem ferido e matado policiais. O mote alegado foi que as eleições foram fraudadas e por isso seus resultados não deveriam ser respeitados. Como se sabe, todas as alegações eram falsas e nada que pudesse por em dúvida a lisura das eleições foi comprovado pelas autoridades americanas. Pura “fake news”. Essa decisão pelo futuro Governo Trump, se efetivada, vai aumentar a polarização nos EUA, sendo motivo de vergonha.

Tivemos então o estúpido mimetismo tupiniquim. Bolsonaro convoca embaixadores para colocar em dúvida a integridade das urnas eletrônicas, e por essa ousada e imprevidente atitude, tornou-se inelegível, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, até 2030. O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, e de forma gradual e implacável, está julgando e condenando todos aqueles que lideraram, organizaram, financiaram e participaram dos atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023, inclusive Bolsonaro. Convém lembrar que todos os edifícios-sede dos três poderes da República foram atacados e depredados, inclusive o Congresso Nacional. É de estarrecer que integrantes da oposição liderados pelo Partido Liberal defendam agora que, por ato legislativo, todos aqueles envolvidos nos distúrbios de 8 de janeiro de 2021 sejam perdoados. O mesmo Congresso que teve seu edifício-sede invadido poderá iniciar uma ação política de perdão geral e irrestrito a todos que não apenas destruíram parcialmente as suas dependências, mas que tentaram destruir a democracia. Essa iniciativa merece o repúdio dos brasileiros e, se por alguma fragilidade política, tal medida for levada a uma decisão plenária, todo aquele que der seu aceite pelo voto merece ser excluído, também pelo voto, do parlamento brasileiro. E que seus nomes jamais sejam esquecidos.

No momento em que o filme “Ainda Estou Aqui “ é aclamado pelo público e que Fernanda Torres ganha o Globo de Ouro pelo seu excelente desempenho como atriz no papel de Eunice, esposa de Rubens Paiva assassinado pela ditadura militar, é importante lembrar que foi o regime autoritário que causou tanto sofrimento a milhares de famílias brasileiras. O filme reafirma nossa fé em que a democracia, com todas as suas imperfeições, ainda é a melhor forma de regular as relações entre a sociedade e os agentes políticos e a maneira mais adequada de assegurar a alternância de poder. Devemos estar, portanto, sempre alertas para evitar que forças autoritárias, à direita ou à esquerda, procurem destruí-la. Ela não está garantida. Temos que zelar por ela.

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