Notícia

A Guerra Comercial e o Nordeste

Jorge Jatobá (artigo publicado no JC)
02 de Junho de 2025

02 - Jun

Já foi dito por diversos analistas que, em uma guerra comercial onde há aplicações de tarifas de forma intempestiva e sem seguir as normas da Organização Mundial do Comercio (OMS), só há perdedores. O Brasil ainda é uma economia relativamente fechada e, no que diz respeito ao seu setor manufatureiro, ainda muito protegida. Por isso, o Brasil pode sair menos prejudicado por manter uma economia pouco aberta aos fluxos de comércio, apesar dos avanços propiciados pela expansão do agronegócio.

Todavia, como o país é continental, as repercussões regionais são diferenciadas. Este texto analisa os fluxos comerciais do Nordeste com o resto do mundo e avalia como a guerra comercial deflagrada pelo Governo Trump, especialmente contra a China, principal parceiro comercial do Brasil, possa nos atingir.

O Nordeste tem uma participação modesta nas exportações brasileiras. Em 2024,respondeu apenas por 7,58% do total (US$ 25,18 bilhões), a menor dentre as macrorregiões do país. Nas importações, a gravitação é maior, cerca de 11%, com um valor de US$ 28,71 bilhões, a terceira maior participação dentre as grandes regiões brasileiras. Portanto, a Região Nordeste é liquidamente importadora, apresentando naquele ano um déficit de US$ de 3,53 bilhões no seu comércio exterior. A baixa participação do Nordeste na balança comercial brasileira reduz o impacto imediato das tarifas impostas pelos EUA.

Por país de destino das exportações, China (23,47%) e Estados Unidos (11,09%) se encontram entre os maiores, seguidos do Canadá (9,31%), Singapura (6,70%) e Espanha (5,24%). As principais importações por origem são: Estados Unidos (21,17%), China (19,42%), Rússia (7,53%), Argentina (4,25%) e Angola (3,75%).

Observe-se que os dois principais países que agora se antagonizam na guerra tarifária, China e Estados Unidos, são os principais parceiros comerciais do Nordeste. Com a China tivemos uma balança comercial praticamente equilibrada com um pequeno superavit de US$ 330 milhões e com os EUA apresentamos um déficit de US$ 2,96 bilhões (todos esses dados referem a 2024 tendo como fonte a Secretaria de Comércio Exterior do MDIC).

Os principais produtos exportados pelo Nordeste são a soja (21,88%) e derivados de petróleo (13,38%) e celulose (8,38%). O Maranhão destaca-se nas exportações de soja para a China, Canadá e EUA através do Porto de São Luís . O Ceará releva-se pelas exportações minerais pelo Porto de Pecém para os EUA e China e a Bahia destaca-se pelas exportações agrícolas (soja e celulose, entre outros) , principalmente para a China.

Os EUA foram um dos principais destinos das exportações de Pernambuco em 2024. Argentina, Singapura, países da África (Angola. Tunísia) e do Oriente Médio também se destacaram. Os principais produtos foram: açúcar, veículos e frutas.
Já entre os principais produtos importados pelo Nordeste destacam-se óleos e derivados de petróleo (22,08%), petróleo bruto (11,13%) e gás de petróleo (7,75%) decorrentes dos negócios da Petrobras na Região, sobretudo na Bahia via o Porto de Ilhéus e em Pernambuco via o Porto de Suape. Os principais produtos importados por Pernambuco foram máquinas e equipamentos industriais seguido por produtos farmacêuticos.

Neste contexto abre-se uma oportunidade de a região exportar, por exemplo, mais soja para o mercado chinês devido a alta tarifa imposta pela China aos EUA, ou seja aquele país pode redirecionar suas importações de soja dos EUA para o Brasil. Por outro lado, existe a possibilidade de produtos chineses manufaturados que estão sendo impactados pelas tarifas dos EUA invadirem o mercado brasileiro. A nossa manufatura é vulnerável à competição externa porque tem sido historicamente protegida desde o ciclo de industrialização via substituição de importações.

Argumento que o Nordeste precisa investir mais em infraestrutura portuária, ferroviária, rodoviária e logística, estimular inovação tecnológica para aumentar a produtividade e ampliar a pauta exportadora via negociações comerciais por meio do Consórcio Nordeste de Governadores e por meio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX). Ainda é cedo para se medir com precisão os impactos dessa guerra comercial, mas é inegável que ela vai nos afetar e precisamos ver como minimizamos os danos e aproveitamos as oportunidades. Os desafios estão postos.

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