Notícia

Pernambuco – Uma luz de saída de um túnel ainda de tantas incertezas

Valdeci Monteiro
02 de Setembro de 2021

02 - Set

O Governo de Pernambuco, através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, elaborou recentemente um plano intitulado “Plano Retomada”, visando dar visibilidade e apoiar o esforço de recuperação da economia pernambucana que, da mesma forma do conjunto da economia nacional, adicionou-se aos efeitos de um baixo crescimento anterior – no caso do estado, em 2017 e 2019, média de 1%a.a. – os impactos da crise deflagrada pela pandemia da Covid-19 , levando a uma taxa negativa de -2,9% do PIB em 2020

Centrado nas cinco macro diretrizes de competitividade, posicionamento regional, economia do conhecimento, economia de base local e sustentabilidade que se fundamentam em três grandes objetivos – atrair investimentos, resgatar empreendimentos e gerar emprego e renda, o Plano chama atenção, em especial, pelo volume de investimentos públicos e privados anunciados ainda este ano e para 2022.

De um patamar médio de R$ 1,3 bilhão a.a. (2015-2018); R$1,069 bilhão em 2019; e R$ 983 milhões em 2020 (ano do epicentro da crise pandêmica) foram anunciados investimentos públicos da ordem de R$ 1,5 bilhão em 2021 e R$3,7 bilhões em 2022, sobretudo para as áreas de educação, rodovias, aeródromos e água e saneamento, contemplando 130 cidades e geração de 38 mil empregos. Enquanto, em termos de investimentos privados em curso ou novos, entre 2021 e 2022, estima-se o aporte de R$ 39,1 bilhões, com geração potencial de 75 mil empregos.

Além da perspectiva, nestes anos, de R$ 6,4 bilhões voltados para concessões e Parcerias Público Privadas (PPPs), um total de R$ 50,5 bilhões em dois anos para um PIB pouco superior a R$ 200 bilhões antes da pandemia é um numero relevante. Destaca-se do conjunto de investimentos privados, o bloco referente a Suape, com R$30,8 bilhões e cerca de 15 mil novos empregos. Ressaltam-se algumas atividades econômicas nestes investimentos: a automotiva, a de energia renovável, a de alimentos e a farmacêutica; além de aportes nos segmentos de centrais de distribuição, estabelecimentos comerciais; turismo (hotelaria e entretenimento), saúde e área da economia do conhecimento.

Estas perspectivas anunciadas neste plano do Governo de Pernambuco surpreendem pelo volume de recursos previstos, em tempos de grande instabilidade econômica e política e de altas incertezas com relação ao futuro. São dados relevantes, mas que precisam dialogar com uma realidade estrutural e conjuntural, ainda muito preocupante.

O Brasil vivencia um quadro atual de preços internos, medidos pelo IPCA, com tendência de elevação, considerando 8,35% de aumento entre agosto de 2020 e julho de 2021. A tendência de elevação da Selic corrobora para encarecer mais o crédito ao consumidor e às empresas, potencializando desestímulos ao consumo e ao investimento; bem como à elevação do custo da dívida pública – conspirando para piorar ainda mais as contas públicas. O câmbio mantém-se volátil e o desemprego continua bem elevado, com taxa de desocupação de 14,6% na média do 1º semestre de 2021.

Pernambuco não está imune a esta conjuntura e isto vem se refletindo na deterioração visível das condições de renda da sociedade e no aumento do nível de pobreza. Em termos estruturais é preciso estar atento às fragilidades há muito presentes na base produtiva e no tecido social do estado, que precisam ser levadas em conta numa estratégia de retomada. Nossa indústria local, em geral, tem baixo grau de competitividade e enfrenta ainda vários constrangimentos infraestruturais, em que pese os avanços ocorridos neste século XXI. Os setores de serviços e comércio ainda estão sofrendo severamente com a crise, com diversos estabelecimentos, inclusive de certa expressão, tendo fechado seus negócios. Por outro lado, não podemos esquecer a questão premente da nossa ainda frágil base educacional, num mundo que converge a passos largos para disruptura digital.

O Plano anunciado, portanto, traz uma luz para o Pós-Pandemia a Pernambuco, mas ainda estamos longe de sairmos do túnel da crise, não apenas porque precisamos fazer melhor (e nas circunstâncias, com menos) o nosso dever de casa, mas porque dependemos de um contexto macroeconômico e político nacional mais favorável, que ajude tornar melhor o ambiente de negócios das empresas, e as condições de renda e emprego da população em geral.

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