Notícia

Ameaça hídrica – Oportunidade para o Nordeste em energias alternativas

Valdeci Monteiro
01 de Dezembro de 2021

01 - Dez

Artigo publicado originalmente no Movimento Econômico em 21 de novembro de 2021 e escrito por Valdeci Monteiro dos Santos.

Nos últimos anos o setor elétrico tem vivenciado um contexto de crise eminente, provado pela diminuição recorrente dos níveis dos reservatórios de suas principais hidroelétricas. Este contexto levou o Governo Federal a instituir este ano a Bandeira de Escassez Hídrica, definindo um aumento de 49,6% sobre a já elevada “bandeira vermelha”, cobrada a cada 100 quilowatts consumidos. Isto ocorreu pela necessidade de se recorrer à geração de energia via termoelétricas para suprir a energia adicional não gerada pelas hidrelétricas devido à citada redução de água nos reservatórios, a um custo muito elevado.

Em meio a esta situação de elevação expressiva do preço da energia elétrica, havia o temor de que os reservatórios se reduzissem ainda mais neste final de ano, mas, notícias divulgadas nesta segunda quinzena de novembro pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indicam que o início da transição para o período chuvoso ocorreu no tempo certo, em outubro, permitindo aumento do volume de água estocada nos reservatórios das principais hidrelétricas do País. Assim a expectativa é que a energia armazenada no Sistema Interligado Nacional (SIN) para os próximos meses, seja suficiente, para evitar risco de apagão ou racionamento.

Esta é uma ótima notícia, em meio a tantas ruins no contexto econômico nacional. Não obstante, reforça mais ainda a necessidade de se avançar na diversificação da nossa Matriz Energética.

A situação de risco hídrico ainda se mantém. Contar com a boa vontade de São Pedro para aliviar este problema, certamente não é a solução mais apropriada. Esta trégua circunstancial revela ainda mais a oportunidade para se buscar a utilização de energias alternativas.

Neste sentido, chama atenção, em especial, as oportunidades apresentadas pela Região Nordeste. Esta avaliação já vem sendo apontada por diversos especialistas e pelo próprio Governo Federal, que através do Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste, lançado pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – Sudene, em maio de 2019, reconhece o potencial da biodiversidade e as excepcionais condições para geração de energia limpa – eólica e solar – da região.

O Nordeste possui características meteorológicas bastante favoráveis para a produção de energia eólica, já sendo responsável por 85% do total da capacidade instalada atual do Brasil, destacando-se como principais produtores os estados do Rio Grande do Norte, a Bahia e o Ceará. A estimativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) é que em 2022 a geração de usinas eólicas alcance 17,6 GW. Ressalta-se ainda que a região já possui um parque industrial localizado no Complexo Portuário-Industrial de Suape, em Pernambuco, que produz praticamente todos os equipamentos necessários para geração deste tipo de energia.

Da mesma forma, o Nordeste também se destaca no País com a maior potencialidade de energia solar. De acordo com o Ministério das Minas e Energia, em 2026 o Brasil deve gerar 9,7 GW de energia solar centralizada e 3,66 de energia distribuída, concentrada significativamente no Nordeste por conta da sua elevada competitividade nesta fonte energética.

Vale lembrar que os custos da geração e utilização para fins residenciais e produtivos dessas fontes energéticas vêm se reduzindo de maneira significativa. O custo do painel solar no Brasil, por exemplo, caiu mais de 20 vezes desde 1980, esta redução combinada com o preço cada vez mais elevado das tarifas de energia elétrica, tem resultado na instalação cada vez maior de placas fotovoltaicas. E no que concerne à energia eólica, o fato da região já contemplar, como foi referido, a produção local dos equipamentos para sua geração, também tem ajudado ao crescente aumento de sua utilização. Aliás, tem se tornado cada vez mais comum se ver torres eólicas nas paisagens nordestinas.

Salienta-se ainda que a difusão destas energias no Nordeste, além de consistirem atualmente em alternativas concretas de segurança energética regional, também representam potencial fonte de geração de emprego e renda, de modo especial para o Semi-Árido nordestino.

Eis aí uma janela de oportunidade para a economia nordestina.

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